Todo bairro é centro
Imagine entrar numa máquina do tempo e viajar diretamente para a época do governo Juscelino Kubitschek — Brasil "50 anos em 5. Brasília, coração do país. Pode entrar, grandes montadoras! Só vamos fazer avenidona pique as de Paris agora! Você teria coragem de dizer aos homens desse momento histórico que esse plano iria levar nossas cidades a um colapso urbano? Eles acreditavam piamente que os carros eram a pergunta e a resposta para todos os problemas do humano moderno. Mal sabiam que estaríamos agora nos afogando em gasolina e fuligem.
Falando em Brasília, gostaria de dizer que fui apenas uma vez. Lembro de ter me impressionado bastante com o fato de ver poucas pessoas andando na rua. Poucas talvez seja uma palavra atenuante. Foram avenidas inteiras sem uma única alma caminhando nas calçadas. E isso me deixou super intrigada. Me deu a impressão que a vida urbana do brasiliense foi muito afetada por conta das grandiosas intenções que os importantes homens da política brasileira tinham para esta cidade planejada. Infelizmente, ainda não retornei depois de saber da existência do maravilhoso grupo de mulheres ciclistas chamado "Calangas" que atua na região.
Porém, não apenas Brasília sofreu quando baixou nos donos do poder o espírito do motorista-futurista em nosso passado recente. Tempos antes, a gestão federal de Rodrigues Alves (1902-1906) buscou uma urbanização do Rio de Janeiro espelhada nas grandes avenidas europeias, com parques suntuosos e palacetes. Claro que para isto acontecer sem grandes problemas estéticos, as pessoas pretas e pobres tiveram que ser expulsas das novas áreas nobres da cidade para ocupar os morros ao redor. Surgiram as conhecidas favelas.
Já deu pra entender que as cidades brasileiras foram feitas para nos engolir, não é mesmo? No entanto, não vamos cair em desesperanças. Existe muito o que fazer dentro do tema mobilidade urbana. Não é atoa que se fala tanto disso ultimamente. Os bairros periféricos estão se fortalecendo cada vez mais. Várias iniciativas socioeconômicas estão vindo à tona para provar que não precisamos necessariamente atravessar a cidade para servir. E se as agências de publicidade, as sedes de bancos, os grandes parques e centros culturais fossem descentralizados? Antes, a resposta para esta pergunta era algo do tipo: "Tá doida, menina? Cada um no seu lugar". Felizmente, cada dia mais descobrimos que, além de nosso lugar ser aonde a gente quiser, também temos o poder de reestruturar nossa cidade segundo as nossas vivências e necessidades. Este movimento já está acontecendo. Olhe ao redor. Veja os movimentos da sua quebrada. Todo bairro é centro!
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