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Milo Araújo

O clima mudou. Precisamos mudar também.

ECOA

17/02/2020 04h00

Este sem dúvida é um Fevereiro bastante incomum. Nos últimos dias caiu mais água do que o esperado para mês todo. A cidade ficou refém do caos e vimos imagens muito chocantes, como a foto da Marginal Pinheiros tomada pela água, junto com os trilhos da linha Esmeralda da CPTM, que liga Grajaú a Osasco. Mesmo depois de parar de chover o clima seguiu estranho. Muitas nuvens e uma garoa chatinha que vem e volta quando menos esperamos. Quem tem memória de um novembro assim? Eu mesma, nascida em 1993, nunca vi algo parecido. A constatação se forma rápido: estamos vislumbrando o início de uma era de enormes mudanças climáticas DE VERDADE. Não é fake news, não é loucura do Al Gore, não é histeria dos "ecochatos" como uns e outros gostam de colocar.

Esta é uma década que exigirá de nós profunda reflexão e autocrítica. Estamos recebendo muitos sinais do planeta que o negócio tá ficando feio mesmo. Parece que conseguimos vislumbrar o limite da exploração do homem sob a natureza, e a visão daqui não é nada boa. Pra mim fica cada vez mais evidente como esta postura humana arrogante e egocêntrica de ser sempre o observador, o agente da ação e colocar a todas as outras coisas do mundo como objetos é o que nos trouxe neste caminho de destruição, na levada de tentar extrair tudo de qualquer lugar. Não há nada que o humano não possa acumular, absolutamente nada. Minerais, madeira, animais domésticos e selvagens, água, ar, terra. Bens que obviamente pertencem a todo ser vivente na face da terra, a gente cercou, privatizou, embalou, empacotou e vendeu. A conta tinha que chegar. Seria loucura que um estilo de vida tão inconsequente não teria consequências. Mas, e agora?

Muito me admira que diante de um cenário tão catastrófico, o hábito se sobreponha a sobrevivência. Para além dos chavões já conhecidos como fechar a torneira ao escovar os dentes e por ai vai, me refiro também aos hábitos de consumo. Pra mim, estes são os mais arraigados. Nossa dependência por produtos embalados em plástico é aterrorizante. Absolutamente tudo que consumimos no setor de alimentação vem embalado em plástico, e nossa resistência para testar novos materiais, menos agressivos ao meio ambiente é gigante. Da mesma forma que pessoas que cursam trajetos super possíveis de serem feitos de bicicleta ou transportes públicos não conseguem se desapegar de seus carros.

Olhar para nós mesmos nunca se fez tão urgente.

Sobre a Autora

Milo Araújo é designer e diretora de arte, pedaleira, caminhadeira e agora escrevedeira. Aprendeu a andar de bike sem as mãos recentemente.

Sobre o Blog

O pedal da Milo entra em ação, de olho na mobilidade urbana. Aqui se fala sobre formas de transitar, ocupar e viver as cidades.