Milo Araújo http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br O pedal da Milo entra em ação, de olho na mobilidade urbana. Mon, 16 Mar 2020 14:49:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 São Paulo vai parar http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/16/sao-paulo-vai-parar/ http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/16/sao-paulo-vai-parar/#respond Mon, 16 Mar 2020 07:00:06 +0000 http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/?p=123

Os que me acompanham aqui pelo blog já sabem, eu sou uma ciclista. A bicicleta está incorporada no meu cotidiano e eu procuro todo dia ir trabalhar pedalando. Da minha casa para o escritório da mais ou menos 7 km e eu faço em 26 minutos, por aí. E neste caminho eu tenho observado o seguinte: o trânsito está cada vez mais parado. 

O normal era eu sair de casa, passar pelas ruazinhas do bairro, cair na primeira avenida grande e no início da segunda os carros começavam a andar com lentidão e só quando chegava perto de atravessar o Rio Pinheiros é que começavam a parar. Nas últimas semanas, a lentidão tem começado muitos km antes, até mesmo nas pequenas ruas de bairro. Os únicos que andam são as motos e as bicicletas naquele corredor que fica entre os carros.

Me lembro da época que eu morava mais longe do meu trabalho e não pedalava nada. Dependia bastante do metrô e do trem. Um dos meus passatempos era ficar esperando passar naquela televisãozinha os números do trânsito atualizados. Lembro que sempre ficava chocada com o tanto de trânsito da zona sul. Tudo lento todo dia. Imagino que agora os números devem ser maiores ainda. Tudo quase parando.

Estava marcado para hoje de manhã a veterinária da minha gatinha nos visitar para aplicar vacila nela, que é uma filhotinha ainda. Acordei cedo e esperei, esperei, esperei, e nada da mulher chegar. Logo chegou a mensagem: estou presa praticamente no mesmo lugar e o trânsito não dá sinais de melhoras. Me arrependi de tentar ir de carro.

Claro, para muitas pessoas, o carro é uma ferramenta de trabalho. Para outras, ele é uma ferramenta para cruzar longas distâncias ou ajudar com a rotina de crianças e idosos. Faz total sentido. Mas, para as pessoas que moram em distâncias super praticáveis de transporte público ou bicicleta (ou mesclando os dois modais), eu faço a pergunta: Por que se sujeitam a fazer parte de um nó tão apertado quanto o trânsito desta megalópole? Me parece um desejo meio masoquista, querer passar longos minutos e muitas vezes horas numa fila de máquinas que soltam fumaça quando não se tem uma grande necessidade.

Enquanto esperamos esta resposta, eu aqui coloco minha previsão. Se não agirmos imediatamente e mudarmos a nossa relação com a indústria automobilística não vai existir outro cenário: um dia você vai sair de casa com seu carro, o trânsito vai estar na frente da sua garagem, e São Paulo vai estar completamente parada.

LEIA EM ECOA:

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Olhar para mobilidade urbana é ser anti sofrimento http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/09/olhar-para-mobilidade-urbana-e-ser-anti-sofrimento/ http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/09/olhar-para-mobilidade-urbana-e-ser-anti-sofrimento/#respond Mon, 09 Mar 2020 07:00:26 +0000 http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/?p=119 Nossa vida em comunidade é baseada em afetos. Afeto no sentido puro do seu significado, de quando você afeta ou é afetado por algo. Nos afetamos enquanto pessoas e também somos afetados por ideias, que quando penetram fundo na gente, se tornam convicções. Eu, por exemplo, acredito genuinamente no poder de transformação social que tem no pensar ativo sobre mobilidade urbana, sobre como você atravessa a cidade, seja lá como for. Eu falo sobre isso sempre que as pessoas me dão uma brecha. E eu não perco as oportunidades de espalhar a palavra da mobilidade urbana porque eu realmente acredito que este é um campo que quando bem cuidado, mudará muitas vidas. Mudou a minha. 

Eu sou uma menina do Capão Redondo que sempre sofreu muito com a ideia de que onde eu nasci era “longe”, como todos colocavam, e pronto. Isso trazia uma impotência, um sentimento de que eu jamais poderia ser e viver outras coisas por conta de estar “longe de tudo”. Isso para vocês entenderem o porque do meu apego a este tema. Existe paixão em mim. Portanto, quando eu falo sobre, as pessoas se sentem afetadas. Algumas de forma positiva, outras nem tanto. Até porque, sabemos que quando apontamos falta de direitos (no caso, o de ir e vir com dignidade) acabamos também por apontar privilégios. Para a Milo criança, sempre foi muito emocionante ser levada para passear na Avenida Paulista. 

Quando comecei a ficar mais adolescente, meu pai me levou para conhecer a enorme livraria que tem ali no Conjunto Nacional. Eu absolutamente pirei. Eu sempre curti ler, então fiquei bastante impressionada com aquela imensa biblioteca. Depois andamos mais alguns quarteirões para cima ou para baixo ao longo da avenida, e eu avistei alguns cinemas e várias outras coisas que achei muito legal. Contudo, me lembro também de que toda aquela empolgação era acompanhada de uma melancolia também. Aquilo tudo era tão longe da realidade do bairro no qual eu vivia que até parecia um conto de fadas triste. Mesmo tão jovem, me comparei com os adolescentes que viviam por ali, e senti raiva, inveja. Por quê eu tinha que atravessar a cidade para ter contato com todas aquelas coisas lindas? Não era justo. Hoje sei que não é justo mesmo, mas no momento, só foi uma sensação horrorosa. 

Conforme fui crescendo, os grandes deslocamentos só aumentavam. Minha mãe me matriculou numa escola pública no bairro do Brooklin, perto do Campo Belo, por conta da violência que tomava conta das escolas do Capão Redondo, e lá ia eu, acordar de madrugada durantes os três anos do Ensino Médio para não ser barrada por conta de atraso na porta da escola. Depois, ficar de olho no relógio durante a última aula da faculdade, por que se perdesse o ônibus no centro, não chegava a tempo de pegar o outro ônibus lá no Terminal Campo Limpo. O negócio era louco. Adrenalina a mil. 

Essa rotina que já foi a minha é parecida com a rotina de um número sem fim de paulistanos. Outras são mais puxadas ainda. 

E pensar que tudo poderia ser menos penoso se a gente tivesse um olhar mais carinhoso para os planos de mobilidade. Você já viu algum candidato a cargos políticos colocando esta pauta com a relevância que lhe é devida? É de crucial importância uma gestão que pense a cidade num caminho de descentralização e de valorização dos transportes públicos. 

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Meu carro, minha rua http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/02/meu-carro-minha-rua/ http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/03/02/meu-carro-minha-rua/#respond Mon, 02 Mar 2020 07:00:12 +0000 http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/?p=115 A gente tem falado tanto sobre os encontros, conflitos e afetos que ocorrem na cidade, que me parece que entender o que é a cidade é um ponto crucial. A gente está tão inserido no cotidiano urbano que raramente nos perguntamos: mas o que é a cidade?

Para Jane Jacobs, grande jornalista americana e crítica voraz da proposta urbanística do modernismo, “a rua (e por conseguinte, a cidade) é uma autêntica e complexa instituição social onde desde crianças aprendemos a socializar e construir comunidade. Se a rua acaba por privilegiar o automóvel por sobre o pedestre, ela morre e inicia-se o fim da cidade.”

Pois bem, vemos então que cidade está intimamente ligada ao conceito de cidadão (o habitante dela). E veja, cidadão é diferente de cliente, como uns e outros insistem em mesclar. A cidade está aqui para que possamos trocar entre nós e crescermos das mais diversas formas a partir dessas trocas. Para que isto aconteça, é importante que tenhamos um ambiente de troca saudável. 

Mas Milo, o que configura um ambiente de trocas saudável? Pra mim, este lugar seria uma cidade na qual todas as pessoas que a habitam tivessem acesso a todos os aparatos culturais e de lazer, diversos ambientes voltados ao desenvolvimento de suas intelectualidades e também ao autocuidado e saúde. Estes citados estariam descentralizados e todas e todos teriam fácil acesso. Consegue imaginar? Sei que é difícil. Mas, poxa vida, por que pensar em uma proposta urbanística tão boa para todas e todos, focada no coletivo, parece um delírio futurista? 

O negócio é o seguinte: quando cidadania se confunde com consumo, as coisas começam a ficar esquisitas. Saúde, educação, lazer e acesso à cidade se tornam mercadorias, quando deviam ser largamente defendidos como direitos fundamentais. Se pensarmos que a cidade é todo o espaço onde o cidadão consegue existir sem pagar, nossa cidade se reduz cada dia mais. É muito doido conceber shoppings, bares e afins como os únicos lugares de socialização, levando em consideração a exclusão social na qual estamos afundados, muito por conta também deste movimento de rentabilizar os espaços antes públicos.

Tendo tudo isto em mente, até faz sentido o comportamento egoísta da classe dos motoristas dentro da dinâmica das trocas na cidade. Nesta conjuntura, se eu tenho dinheiro e compro um carro, usar este meu bem privado de alto custo na via faz dela uma extensão dele e, portanto, a via se torna privada também, colocando os pedestres e ciclistas quase que num lugar de clandestinidade. Entendem onde eu quero chegar? Estou tentando mostrar apenas o topo do iceberg que é o problema do urbanismo nas grandes cidades, não só do Brasil, mas no mundo todo. Vamos tirar esse véu de invisibilidade que insistimos em colocar sobre esta questão tão fundamental para a nossa existência no mundo? Eu proponho essa reflexão de forma sincera.

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4 motivos pelos quais o capitalismo odeia as bicicletas http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/02/24/4-motivos-pelos-quais-o-capitalismo-odeia-as-bicicletas/ http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/02/24/4-motivos-pelos-quais-o-capitalismo-odeia-as-bicicletas/#respond Mon, 24 Feb 2020 07:00:03 +0000 http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/?p=112 Sabemos que o capitalismo opera na lógica do consumo, da necessidade inventada e do rapto da autonomia dos indivíduos. Quanto mais paralisados, melhor. Pensando nisso, faz todo sentido que, dentro deste contexto, a indústria automobilística tenha se desenvolvido na proporção que se deu. É por isso que pedalar é uma ferramenta tão poderosa para o nosso bem estar e busca pela liberdade:

Bicicleta é econômica: assumir a bicicleta como meio de transporte diário tem seus custos, como por exemplo, investir numa boa bicicleta que atenda suas necessidades, manutenção, algum pneu que fure ocasionalmente, compra de algumas ferramentas etc, mas nada comparado com os gastos que o uso diário de um carro produz. O motorista, em linhas gerais, basicamente compra um carro para ir ao trabalho e trabalha para manter o carro, tamanho o número de despesas que um carro gera.

Bicicleta é ecológica: a bicicleta é um veículo que gera um total de 0% de emissão de gás carbônico, um dos principais responsáveis pelas grandes mudanças climáticas que estão acontecendo no planeta. Ou seja, andar de carro contribui para eventos destrutivos, como grandes secas, grandes queimadas, enormes enchentes, alastramento de doenças novas e perigosas e tudo mais que vem no pacote do aquecimento global, fenômeno causado pelas grandes emissões de gás carbônico.

Bicicleta é saudável: andar de bicicleta reduz a nossa dependência da indústria farmacêutica e despesas hospitalares a médio e longo prazo. Ao pedalar, trabalhamos músculos do corpo todo, sem falar no fortalecimento das nossas capacidades respiratórias e cardiovasculares. Conforme a prática do ciclismo vai fortalecendo seu corpo, os benefícios a saúde vão se ampliando também, tanto corporais quanto mentais.

Bicicleta é transporte: viver em cidades grandes é lidar com o aumento anual das tarifas do transporte público. Todo início de ano passamos por esse grande choque e sofrimento. Ao incorporar, cada um da forma que pode e que consegue, a bicicleta transporte, e não só como lazer, praticamos uma bela economia. Existem várias maneiras de fazer isso. Pode ser fazendo o caminho até o metrô de bicicleta e partir de metrô de lá, poupando o valor da integração com o ônibus.

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O clima mudou. Precisamos mudar também. http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/02/17/o-clima-mudou-precisamos-mudar-tambem/ http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/02/17/o-clima-mudou-precisamos-mudar-tambem/#respond Mon, 17 Feb 2020 07:00:26 +0000 http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/?p=109 Este sem dúvida é um Fevereiro bastante incomum. Nos últimos dias caiu mais água do que o esperado para mês todo. A cidade ficou refém do caos e vimos imagens muito chocantes, como a foto da Marginal Pinheiros tomada pela água, junto com os trilhos da linha Esmeralda da CPTM, que liga Grajaú a Osasco. Mesmo depois de parar de chover o clima seguiu estranho. Muitas nuvens e uma garoa chatinha que vem e volta quando menos esperamos. Quem tem memória de um novembro assim? Eu mesma, nascida em 1993, nunca vi algo parecido. A constatação se forma rápido: estamos vislumbrando o início de uma era de enormes mudanças climáticas DE VERDADE. Não é fake news, não é loucura do Al Gore, não é histeria dos “ecochatos” como uns e outros gostam de colocar.

Esta é uma década que exigirá de nós profunda reflexão e autocrítica. Estamos recebendo muitos sinais do planeta que o negócio tá ficando feio mesmo. Parece que conseguimos vislumbrar o limite da exploração do homem sob a natureza, e a visão daqui não é nada boa. Pra mim fica cada vez mais evidente como esta postura humana arrogante e egocêntrica de ser sempre o observador, o agente da ação e colocar a todas as outras coisas do mundo como objetos é o que nos trouxe neste caminho de destruição, na levada de tentar extrair tudo de qualquer lugar. Não há nada que o humano não possa acumular, absolutamente nada. Minerais, madeira, animais domésticos e selvagens, água, ar, terra. Bens que obviamente pertencem a todo ser vivente na face da terra, a gente cercou, privatizou, embalou, empacotou e vendeu. A conta tinha que chegar. Seria loucura que um estilo de vida tão inconsequente não teria consequências. Mas, e agora?

Muito me admira que diante de um cenário tão catastrófico, o hábito se sobreponha a sobrevivência. Para além dos chavões já conhecidos como fechar a torneira ao escovar os dentes e por ai vai, me refiro também aos hábitos de consumo. Pra mim, estes são os mais arraigados. Nossa dependência por produtos embalados em plástico é aterrorizante. Absolutamente tudo que consumimos no setor de alimentação vem embalado em plástico, e nossa resistência para testar novos materiais, menos agressivos ao meio ambiente é gigante. Da mesma forma que pessoas que cursam trajetos super possíveis de serem feitos de bicicleta ou transportes públicos não conseguem se desapegar de seus carros.

Olhar para nós mesmos nunca se fez tão urgente.

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Repita o mantra: eu sou o trânsito http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/02/10/repita-o-mantra-eu-sou-o-transito/ http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/02/10/repita-o-mantra-eu-sou-o-transito/#respond Mon, 10 Feb 2020 07:00:56 +0000 http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/?p=105 Quando eu era mais novinha, lá pelos 18 anos, passei por um episódio que rapidamente entendi ser muito comum por aqui por São Paulo. Eu morava no Capão Redondo e precisava me locomover até a Avenida Paulista. Precisava estar lá às 9h da manhã. Acordei cedo, me arrumei, peguei o carro e engatei a primeira marcha entre 7h e 7h20. Em tese, o caminho é muito simples, sem grandes curvas e desvios. Eu cheguei meio dia. E o leitor pode trazer o contraponto de que provavelmente deveria ter ocorrido algum acidente naquele dia. Mas naquela época eu estava sempre sintonizada numa rádio que monitorava o trânsito, e não tinha acontecido nada de extraordinário. Apenas muitas pessoas – e eu incluída nessa galera – tínhamos tido a genial ideia de tirar os carros da garagem em massa. 

Eu me lembro dos sintomas de loucura que tive durante este trajeto. Eu estava morta de impaciência, ansiedade, raiva, etc. Pé na embreagem, pé no freio, pé na embreagem, pé no acelerador, pé no freio. Calor. Buzinas. Ultrapassagens absurdas de geral. Um espacinho livre parecia o último copo de água no deserto para nós, sedentos motoristas. Os minutos passando e eu ficando levemente atrasada, depois discrepantemente atrasada. Todo mundo se olhando feio. Nossa socialização mega individualista nos apontava para uma única conclusão ali naquela situação: o inferno são os outros. Eu, na minha débil atitude julgadora, olhava para as pessoas que estavam sozinhas em seus carros, assim como eu, e pensava que, ao menos, eu estava fazendo isso uma vez só, e tem gente que faz isso todos os dias. Não me coloquei como parte do problema na época, mas agora vejo que sim, obviamente eu fiz parte da composição daquele quadro. Cada carro na rua é parte da grande estrutura engessada e enrolada num nó que não desata chamado trânsito de São Paulo. 

Não estou falando para todas e todos nunca mais entrarem em seus carros. Não é isso. Só digo que não podemos ser tão dependentes e devemos criar trajetos mistos sempre que possível. Por exemplo: você pode ir de carro até uma estação de metrô próxima e seguir seu caminho de lá. Pode também oferecer carona para suas vizinhas e vizinhos. Pode fazer metade de trem, metade de bike alugada. O mundo da mobilidade urbana é de infinitas possibilidades. E, independente de como você esteja atravessando a cidade, se lembre: o trânsito somos nós, não os outros.

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O maior cuida do menor http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/02/03/o-maior-cuida-do-menor/ http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/02/03/o-maior-cuida-do-menor/#respond Mon, 03 Feb 2020 07:01:29 +0000 http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/?p=97 A segurança no trânsito é um dos fatores mais citados como desencorajador das pessoas que cogitam incorporar a bicicleta ao seu dia a dia. No ano de 2019 tivemos um aumento considerável de morte de ciclistas. Segundo matéria no G1, foram 14 no primeiro semestre de 2018 contra 25 no ano posterior. Vamos fazer uma reflexão sobre por que o trânsito brasileiro é tão hostil com as bicicletas.

Ser um motorista experiente não significa necessariamente ser um grande conhecedor do Código de Trânsito Brasileiro. Na verdade, raramente as pessoas se dão ao trabalho de entender que raio que está escrito nesse tal CTB (Lei 9.503/97). Lá existem vários pontos que abordam como lidar com ciclistas no dia a dia do trânsito. Vou trazer aqui os meus favoritos:

Art. 21

Compete aos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:

II – planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas;

Art. 29

O trânsito de veículos nas vias terrestres abertas à circulação obedecerá às seguintes normas:

(…)

2º Respeitadas as normas de circulação e conduta estabelecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres.

Art. 38

Antes de entrar à direita ou à esquerda, em outra via ou em lotes lindeiros, o condutor deverá:

(…)

Parágrafo único. Durante a manobra de mudança de direção, o condutor deverá ceder passagem aos pedestres e ciclistas, aos veículos que transitem em sentido contrário pela pista da via da qual vai sair, respeitadas as normas de preferência de passagem.

Art. 170

Dirigir ameaçando os pedestres que estejam atravessando a via pública, ou os demais veículos:

Infração – gravíssima;

Penalidade – multa e suspensão do direito de dirigir;

Medida administrativa – retenção do veículo e recolhimento do documento de habilitação.

Os ciclistas se tornam um grupo mais vulnerável por suas demandas e necessidades não serem colocadas como pauta de grande relevância, sendo desconsideradas no planejamento urbano. Mesmo existindo leis, há pouca fiscalização.

Ou seja, né…

Está bem transparente na legislação que, independentemente do que a cultura “carrocrata” pense a respeito das outras formas de locomoção, o maior cuida do menor! Tirar finas, gritar, tentar derrubar e acelerar o ciclista são ações completamente inaceitáveis, independentemente do quanto o motorista acredite que o ciclista mereça. 

Parecem ações “corretivas”, seja lá o que esses motoristas que tomam este tipo de atitudes acham que estão corrigindo. Mas na verdade são atitudes homicidas. Vocês podem matar pessoas fazendo isso! Não tentem desestabilizar o ciclista. Nós, ciclistas, vamos trabalhar cada vez mais para reivindicar nosso espaço na cidade de São Paulo e aprender como pedalar de forma segura, e a galera do carro deve trabalhar para entender como praticar a boa convivência. Este é o recadinho paroquial do dia.

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Pedalar para se sentir melhor consigo mesmo http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/27/pedalar-para-se-sentir-melhor-consigo-mesmo/ http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/27/pedalar-para-se-sentir-melhor-consigo-mesmo/#respond Mon, 27 Jan 2020 07:00:07 +0000 http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/?p=93 Ao ler este título, a primeira impressão pode ser de que vou falar de um lugar bem estético de culto ao corpo. Não desista do meu texto ainda! Me dê uma chance. Posso até pincelar por aí, mas juro que vou passar por outros territórios da autoestima.

O início da escalada da autoestima por meio da bicicleta começa por você estar se propondo a fazer algo que vai na contramão do que é esperado, do que é comum. E essa atitude exige de você força para sair da caixinha dos adultos com automóveis. Nossa sociedade sugere que a vida adulta se completa na compra do primeiro carro. Este tipo de pensamento acarreta em vários sentimentos negativos, afinal, carros não são exatamente um artigo barato e a vida dentro de automóveis é um pouco enlouquecedora, principalmente se você vive numa grande cidade como São Paulo. Portanto, se você quebrou essa lógica de ‘carrodependência’, parabéns!

Agora que você já está colocando sua bicicletinha, vamos partir para os desafios da categoria! Inicialmente damos preferência a caminhos com menos elevações e distâncias mais curtas. Com o passar do tempo subimos ladeiras menos inclinadas sem nem percebermos. Isso é o nosso corpo desenvolvendo resistência. Nossos músculos estão trabalhando, mesmo quando não percebemos. Se você consegue desenvolver uma certa frequência na sua pedalada, vai ver que trajetos que antes te cansavam já não te cansam mais. A ladeira que você só ia até o começo, você já está subindo até a metade. E quem sabe amanhã você não vai olhar pra ela lá do topo, suando horrores mas com o coração lotado de orgulho?

Se você prefere pedalar solo, então conhece o sentimento de dignidade de chegar ao seu destino são e salvo depois de lidar com buracos, calor ou frio e sabe se lá mais o que aparece no nosso caminho quando estamos pedalando. Se sua praia é um pedal coletivo, o calorzinho no coração vem das conexões incríveis que são criadas quando estamos juntas e juntos desbravando as cidades em cima de duas rodas.

Podemos dizer que pedalar é muito sobre autoestima. Trabalhamos para superar os problemas estruturais de mobilidade, desenvolvemos habilidades corporais, vamos aos mesmos lugares de formas diferentes ou vamos a novos lugares. Acredite, pedalar é mágico e transforma.

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Quantos assédios um dia de verão te rende? http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/20/quantos-assedios-um-dia-de-verao-te-rende/ http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/20/quantos-assedios-um-dia-de-verao-te-rende/#respond Mon, 20 Jan 2020 11:22:01 +0000 http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/?p=87 Já estamos sentindo as ondas de calor. O verão de 2020 chegou com tudo! Estamos vivendo aquelas noites que parecem dias e aqueles dias em que passar em frente a uma loja com ar-condicionado é um bálsamo.

Acordei hoje com o suor colando na testa, refletindo o quão difícil para o meu corpo seria pedalar até o trabalho nesse dia. Mas como estou bem focada em manter hábitos saudáveis e desenvolver uns novos, me convenci a enfrentar a sauna que está sendo o mundo e em cima de duas rodas.

Na hora de escolher a roupa, aquele peso do impacto do seu corpo no mundo. Um calor desgraçado me fez escolher um shorts, uma blusinha cropped, uma meia e um tênis. Cabelo preso no alto pra ajudar na ventilação e na visão. Bolsa na cintura e resiliência na alma.

Na terceira curva eu percebi que aqueles míseros 5 km seriam uma grande jornada — e erra você que pensa que estou falando do calor do verão. O desconforto do calor não faz nem cócegas perto da sensação que o assédio masculino causa. Claro, somos assediadas em todas as estações do ano. Contudo, o verão traz consigo uma maior exposição do nosso corpo, e sabemos que o corpo das mulheres não é encarado com naturalidade. Em todas as situações ele carrega um estigma: a mãe, a santa, a puta, a carne barata, a velha. Nunca humana.

O primeiro assédio veio no semáforo. O farol ficou vermelho e, ao parar a bicicleta para esperar meu momento de prosseguir, fui intimidada pelos olhares dos motociclistas em direção a minha pele à mostra. Todos eles estavam olhando pra mim e todos sabiam que os outros estavam olhando, mas nada disso foi uma questão para eles.

No momento do assédio, os homens entram numa perfeita comunhão. Eles se sentem seguros dentro desta “casa dos homens”.

Para meu alívio, o farol abriu e eu acreditei ter sido aquela uma situação isolada no início do meu dia. Na próxima esquina, um caminhão de pequeno porte emparelha comigo. Os dois homens dentro da cabine se revezam para gritar atrocidades pra mim. O fato dos outros usuários da via estarem presenciando aquele triste espetáculo não os intimidou. Mas graças à dinâmica do trânsito, eu deixei o caminhão para trás. Dei prosseguimento ao meu caminho.

Estou agora pedalando em direção à ponte Eusébio Matoso. Escolho ir pela parte dos pedestres, por ter pouco movimento e pra me sentir mais segura, pois os motoristas, não sei exatamente o porquê, se comportam de forma bárbara nas pontes. E mesmo nesse breve momento de distanciamento do trânsito intenso, uma quantidade gigantesca de carros buzinaram pra mim, e a sensação é horrível. Além de buzinas terem o poder de desestabilizar o ciclista, saber o motivo vil por trás desse irritante barulho faz tudo ficar pior.

Enfim cheguei ao meu trabalho. Um pouco desestabilizada diante do enorme desrespeito direcionado às mulheres. Já é difícil ser ciclista, mas o recorte de gênero é muito necessário, pois as violências que sofremos apenas por sermos mulheres são parte de uma experiência muito específica e comum. O assédio faz parte da vida das mulheres e isso não está certo.

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Os benefícios de andar de bicicleta para o corpo http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/13/os-beneficios-de-andar-de-bicicleta-para-o-corpo/ http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/13/os-beneficios-de-andar-de-bicicleta-para-o-corpo/#respond Mon, 13 Jan 2020 10:43:38 +0000 http://miloaraujo.blogosfera.uol.com.br/?p=84 Andar de bike é uma paixão daquelas raras: que só traz coisas boas para a vida, sem poréns ou concessões. Se você se apaixonar por uma bike a agarre e não largue mais!

Além de ser agradável e divertido andar pela cidade em cima deste charme de duas rodas, você diminui a poluição do planeta e ajuda seu corpo a se tornar mais e mais e mais saudável.

Quando se pedala, você movimenta todo seu corpo, físico e mental. Dentre os inúmeros benefícios que o exercício da bicicleta traz ao corpo humano, separei sete para falar com vocês hoje.

Energia vital
Pedalar ajuda a deixar seu cérebro mais bem oxigenado e, com o suor do exercício, elimina toxinas do corpo com mais facilidade. E isso é uma grande coisa! Um cérebro saudável e um organismo livre de toxinas te garantem bem-estar e energia de vida para realizar todas as tarefas e compromissos do seu dia sem recair em lugares sombrios como o estresse.

Adrenalina no corpo
A prática do ciclismo deixa seu corpo com a sensação de ter levado um choque de adrenalina. É como se você tivesse vivido algo muito intenso que te garante aquele sorriso genuíno, que parece sem quê nem pra quê. É uma mistura de muitas beneficies para o seu corpo, com mente oxigenada, veias e artérias do coração tonificadas, endorfina sendo
liberada; vento no rosto e um estado de alerta para manter o equilíbrio e prestar atenção na sincronia do seu corpo com a bike e em tudo ao seu redor. Ufa! Coisa boa demais!

Pernas mais fortes
Andar de bike te ajuda a melhorar sua força, equilíbrio e coordenação motora. Como é um exercício que demanda mais forças das pernas, elas são as partes físicas mais beneficiadas. Se prepare para ganhar músculos tonificados, fortes e mais resistentes… Inclusive para dançar uma noite inteira e não sentir dor no dia seguinte. Só vantagens.

Mente mais ágil
Se você quer ter sua massa cinzenta brilhando, pedalar é o caminho certo! Pesquisadores do Beckman Institute for Advance Science and Technology da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, descobriram que com apenas 5% de melhoria na saúde cardiorrespiratória por meio do ciclismo, o aumento da capacidade cognitiva foi de 15% em testes mentais. Isso acontece porque, ao pedalar, você ganha novas células cerebrais na parte do hipocampo, que é justamente a área do cérebro responsável pela memória.

Anti ansiedade
Escolher o ciclismo como estilo de vida te ajuda a combater doenças ligadas à nossa saúde mental, como os distúrbios de ansiedade e a depressão. Em uma sociedade caótica, que te pressiona o dia inteiro de diferentes formas, encontrar saídas saudáveis para arejar a mente e liberar endorfina para o seu corpo é um presente que a bike te dá.

Fortalecimento dos pulmões
Como eu já mencionei acima, pedalar exige muito oxigênio! Por isso sua respiração será treinada intensamente – o que irá melhorar as condições dos seus pulmões. Chega de subir uma escada e ficar ofegante. Depois de iniciar a vida como ciclista você terá fôlego e disposição de sobra para fazer muita coisa… Se é que me entende.

Reduz risco de diabetes
A diabetes é uma doença cruel, que muitas vezes se instala no organismo de repente, sem a pessoa se dar conta. E andar de bicicleta é um ótimo aliado para combater a glicemia! Isso acontece porque quando você pedala com frequência o nível de açúcar no sangue é naturalmente equilibrado.

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